quarta-feira, 14 de março de 2018

Desnaturado



Homem, porquê a distância?
Qual o caminho te desviou?
Foi o desejo de ganância,
Foi a ânsia do conhecimento
Que para longe te levou?
Homem, principal causa do teu sofrimento.

Desprezaste as ondas brancas e as florestas verdes,
Convencido da tua superioridade racional,
Cercaste-te de muros e a liberdade perdes,
Ascendendo a um mundo irreal.

Homem, regressa ao paraíso perdido.
Integra-te de volta na natureza,
No teu elemento preferido
Naquele que sempre te foi destinado,
Sem angústias e pleno de beleza.

Tomás Santos

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

desejo-te tempo



Não te desejo um presente qualquer,
Resultado de imagem para tempoDesejo-te somente aquilo que a maioria não tem.
Desejo-te tempo, para te divertires e para sorrir;
Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.
Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti, mas também para os outros.
Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr.
Desejo-te tempo para te encontrares,
Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém.
Desejo-te tempo para tocares as estrelas,
E tempo para crescer e amadurecer.
Desejo-te tempo para aprender e acertar,
Tempo para recomeçar, se fracassares...
Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar.
Desejo-te tempo, para ter novas esperanças e para amar. Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para ser feliz. Para viver cada dia, cada hora como um presente.
Desejo-te tempo, tempo para a vida.
Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo!

José Régio









quarta-feira, 28 de junho de 2017

paraíso perdido





Um piano na minha rua…
Crianças a brincar…
O sol de domingo e a sua
Alegria a doirar…

A mágoa que me convida
A amar todo o indefinido…
Eu tive pouco na vida
Mas dói-me tê-lo perdido.

Mas já a vida vai alta
Em muitas mudanças!
Um piano que me falta
E eu não ser as crianças!

Fernando Pessoa, Poesia do Eu


terça-feira, 6 de junho de 2017

Luz que brilha na escuridão

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola ... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não veem
só adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exata
que bruxeleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exatidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui no meio de nós.
Brilha.                                                                                       Jorge de Sena


domingo, 29 de janeiro de 2017

nascimento



Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o sol escureceu,
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama, in 'Antologia Poética'

homenagem

Look up here, I'm in heaven
I've got scars that can't be seen
I've got drama, can't be stolen
Everybody knows me now

Look up here, man, I'm in danger
I've got nothing left to lose
I'm so high it makes my brain whirl
Dropped my cell phone down below

Ain't that just like me?

By the time I got to New York
I was living like a king
Then I used up all my money
I was looking for your ass

This way or no way
You know, I'll be free
Just like that bluebird
Now ain't that just like me

Oh I'll be free
Just like that bluebird
Oh I'll be free
Ai'nt that just like me?

Lazarus, David Bowie

segunda-feira, 6 de junho de 2016

It was many and many a year ago...


Annabel Lee

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea:
But we loved with a love that was more than love -
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her high-born kinsmen came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me -
Yes! that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud one night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we -
Of many far wiser than we -
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee;

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling -my darling -my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea -
In her tomb by the sounding sea.


Edgar Allan Poe